30 outubro, 2005

O domingo e a segunda

É um domingo à noite, a cidade começa a dormir sem poesia ou talvez com os rastros da poesia que agora se dissolve em tua mente. A segunda-feira está logo ali, à espreita, e eu não sei o que esperas dela ou o que ela te reserva. As segundas costumam ter solidez de muralha frente aos devaneios dominicais. O ciclo de uma semana abriga toda a vida. A sexta à noite é cheia de perspectivas; é o começo de um tempo em que se tem alguma liberdade; é momento de pensar em fugas, em revoluções, em utopias. A segunda-feira consome os sonhos ou os coloca em suspensão; uma poderosa e impessoal estrutura entra em ação definindo a posição de cada um no mecanismo que faz o mundo girar. É dessa posição que se fala; é nessa posição que se age... até as dezoito horas da sexta, quando o ciclo se completa, com novas perspectivas voltando a ser vislumbradas enquanto a silenciosa máquina aguarda nossa resignada abdicação das segundas-feiras. A roda vai girando sem parar, semana após semana: um pouco de sonho, muita realidade, leveza de sonho, o peso da realidade... Presos nesse círculo, eu e tu suportamos a aspereza das segundas-feiras não apenas porque enxergamos lá à frente a suavidade das horas do começo de um outro final de semana, mas especialmente porque nada vemos além da roda em que giramos.

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