11 junho, 2006

Mais uma segunda?

Como se fosse sereno, a noite vai se depositando lentamente sobre as casas, as árvores e as ruas . Não são seis horas ainda, mas já se podem ver estrelas entre as cinzentas nuvens de um domingo frio de quase inverno. Há beleza no momento, mas tua mente se desloca do presente para o futuro e diz que amanhã a roda do tempo faz mais uma volta: será de novo segunda-feira. As luzes dos postes vão se acendendo agora como se acenderam ontem mais ou menos na mesma hora. É quase inverno, como era quase inverno um ano atrás. É verdade: um domingo termina, como há uma semana. Mas amanhã não voltaremos a viver o que já vivemos. Em meio à ilusão de um tempo circular, como o movimento da Terra em torno do Sol, há a realidade de um tempo que jamais retorna, que segue do desconhecido para o desconhecido e nos encontra como o vento encontra a folha de uma árvore perdida no meio de seu caminho. Talvez haja algum conforto na idéia de um tempo circular, talvez ela nos dê a ilusão de conhecer o dia seguinte, nos permitindo dizer simplesmente que é outra segunda, e dar de ombros... Será mesmo assim? Tua vida e minha vida seguem em frente a cada dia, desde que nascemos. O tempo segue sua trajetória e nos leva, não em círculos, mas à frente, sempre à frente, em direção ao desconhecido. Esse contínuo fluxo transporta a minha e a tua vida, e mesmo a vida da criança que acabou de nascer. Eu não quero te entristecer se vens aqui buscar alguma espécie de ajuda. Não, eu não quero te dar nuvens quando queres sol, mas não posso deixar de descrever o que vejo. Talvez o que eu tenha para te dizer não seja o que gostarias de ouvir, mas eu te digo com carinho: apesar de todas as incertezas, da insegurança que se esconde por detrás de qualquer crença, vejo beleza em seguir o fluxo do tempo, em beber o tempo como quem sorve a pouca água do único cantil que se tem no meio de um deserto sem oásis. Há beleza em ser folha levada pelo vento, em poder ser uma vida num universo que, indiferente às vontades humanas, é só pergunta, é só mistério.
E se me perguntas qual o sentido de tudo isso, é claro que eu não consigo encontrar resposta - o que não significa afirmar a ausência de sentido. Tenho comigo, porém, um pouco de talvez: sim, talvez não devamos ficar buscando o sentido da vida, mas atribuir um sentido às nossas vidas.
Nesse meio tempo, a noite que caía tomou conta de tudo. As nuvens se dissiparam, e a escuridão de um espaço pontilhado de estrelas é o manto que cobre nossas inquietações e esperanças.